Larry Sackiewicz
O Medo da IA

Esta semana, vimos outra onda de pânico sobre a IA. Elon Musk e vários pesquisadores seniores escreveram uma carta pedindo ao mundo que “desacelerassem” por 6 meses antes de avançar com o GPT4. O Goldman Sachs publicou uma nota afirmando que 300 milhões de empregos serão afetados pela Generative AI e 7% dos empregos podem ser eliminados. E uma equipe de acadêmicos da UPenn escreveu um estudo que afirma que 87% dos empregos serão fortemente afetados pela IA.
Junto com esse barulho, vêm artigos no New York Times, Washington Post e outros jornais pelo mundo que pintam imagens de máquinas de IA funcionando descontroladamente, arruinando o sistema político e, eventualmente, se transformando em “máquinas de autoplanejamento” que tomam o poder e acabam com o planeta.
E graças a toda esse burburinho, uma pesquisa recente mostra que apenas 9% dos cidadãos comuns acreditam que a IA fará mais bem do que mal para a sociedade.
Vou argumentar que alguma dessas preocupações são sim justificadas. Embora existam resultados imprevisíveis com qualquer nova tecnologia (obtemos a síndrome do túnel do carpelo em nossos teclados, fake news no Twitter e problemas de saúde mental infantil nas mídias sociais), a IA em si não é má, “fora de controle” ou necessariamente perigosa. O que é perigoso é como decidiremos usá-la.
Vou elencar os cinco medos que mais ouvi:

1/ A IA eliminará empregos, criará desemprego e interromperá a força de trabalho global.
Não é verdade. Ouvi essa mesma história em meados dos anos 2000, quando a Universidade de Oxford publicou relatórios de que 47% dos empregos seriam eliminados pela automação. Naquela época, o The Economist, a McKinsey e outros previram que os computadores acabariam com os empregos no varejo, serviços de alimentação, contabilidade, bancos e finanças. E vimos tabelas e gráficos detalhando quais tarefas, empregos e carreiras seriam eliminados. Agora, olhando para trás, está claro que nada disso aconteceu. Temos a taxa de desemprego em baixa, a demanda por trabalhadores da linha de frente está em alta e a necessidade de trabalhadores de manufatura, processo, logística e tecnologia ainda não foi atendida.
E, a propósito, como a IA é amplamente impulsionada pela matemática, aposto que veremos um aumento nas especializações em matemática e no interesse geral por estatística, programação linear e álgebra

2/ A IA acelerará a desigualdade de renda, a pobreza e a falta de moradia.
Muitas fontes culpam a tecnologia por agitação social, problemas de saúde mental e desigualdade econômica. E essa ideia de que as novas tecnologias “esvaziam” a classe média e criam acesso antidemocrático aos ricos continua a gerar muitos temores. A realidade é que o oposto é verdadeiro. Vejamos os dados. Para cada nova tecnologia inventada (computador, site, nuvem, celular, IA), criamos uma nova indústria de empregos.
Os empregos em design de interface do usuário, engenharia de pilha completa e software front-end estão explodindo. E hoje, graças aos bootcamps e à educação em faculdades comunitárias, qualquer pessoa com um diploma do ensino médio pode se tornar um programador de computador.

3/ A IA criará desinformação, guerra cibernética, viés amplificado e, eventualmente, destruição massiva do sistema.
Essa questão é sobre debater o “uso irresponsável” da IA. As pessoas temem que os sistemas de IA resultem em encarceramento injusto, spam e desinformação, catástrofes de segurança cibernética e, eventualmente, uma IA “inteligente e planejada” que assumirá o controle de usinas de energia, sistemas de informação, hospitais e outras instituições.
Não há dúvida de que as redes neurais têm viés. Eles são treinados com informações limitadas, portanto, se indexarem mentiras ou preconceitos (ou seja, analisam carreiras e decidem que homens brancos têm mais chances de sucesso do que mulheres afro-americanas), eles nos darão conselhos enganosos. Portanto, esses sistemas podem “acelerar” problemas e contribuir para comportamentos nefastos.
Mas deixe-me lembrá-lo de que Facebook, Twitter e outras redes sociais fazem isso hoje. Todos os “sistemas de comunicação abertos” levam ao abuso e ao mau comportamento e, de certa forma, a IA generativa pode limpar isso. Em apenas algumas semanas, por exemplo, a Microsoft melhorou drasticamente o comportamento do Bing e agora cita fontes para qualquer declaração confiável. O Google Bard, que ainda está em modo experimental, está passando por testes rigorosos do Google e conta com forte suporte de ferramentas de segurança na Pesquisa Google.
Sobre o tópico de segurança da informação e guerra, temos que assumir que comportamentos nefastos habilitados por IA já estão acontecendo. Não há nada que impeça um cibercriminoso de contratar um engenheiro de software e construir um modelo de IA hoje, se quiser. Portanto, a resposta não é colocar o gênio de volta na garrafa, mas sim criar uma indústria de ferramentas, regulamentos e sistemas de monitoramento para combater esses atores.

4/ A IA criará um mecanismo senciente e maligno de “IA geral” que poderá acabar com a humanidade.
Depois, há o maior medo de todos: a IA vai “ficar louca”. E, claro, filmes como Ex Machina certamente nos dão ainda mais medo.
Sugiro o seguinte: toda tecnologia já inventada foi usada para propósitos malignos. O e-mail é usado para roubo de identidade e distribuição de vírus e spyware. Os telefones celulares estão cheios de spam e podem ser usados para vigilância. Apesar de uma grande indústria de ferramentas de segurança cibernética, hospitais e governos continuam a lidar com hackers roubando de tudo e mais um pouco. Até mesmo o Robert Oppenheimer, o inventor da bomba atômica, acreditava que a ciência nuclear seria usada para o bem. E hoje os benefícios incluem varredura NMR, tratamento de câncer e até mesmo os detectores de fumaça.
Devemos assumir que essa tecnologia, como todas as outras já inventadas, será domesticada e aprimorada com o tempo.
O lado positivo da história
As empresas de cartão de crédito podem identificar fraudes e nos proteger contra roubo quase em tempo real (tudo feito usando IA). As seguradoras podem precificar sua reivindicação de acidente por meio de uma foto, economizando dias de esforço. Os fones de ouvido com cancelamento de ruído tornam os treinos divertidos e emocionantes (usa uma rede neural). Novas ferramentas de recrutamento economizam milhões de dólares para as empresas selecionando candidatos a empregos que não precisam de diploma universitário para competir. E as plataformas de inteligência de talentos sugerem conselhos de carreira, treinadores e educação para ajudá-lo a crescer e progredir.
Então, por que temos medo? Pode ser algo diferente.
Talvez devêssemos ouvir o Bill Gates, que acredita que “A Era da IA” trará melhorias espetaculares na saúde, educação, arte e negócios. Ou assistir ao Michael Bloomberg, que lançou o BloombergGPT, posicionando-se como a maior rede neural para finanças já criada.
A IA fornecerá benefícios que nem podemos imaginar. Vamos apenas dar um tempo.